sábado, 30 de agosto de 2008

Lévy e Mattelart, Política e Comunicação.

O crescimento meteórico da informática a partir da epopéia neoliberal de final de século trouxe uma nova configuração ao sistema comunicacional no planeta. Obviamente, o estudo das novas tecnologias de comunicação se dão desde os paradigmas mais primórdios. Do funcionalismo pragmático, passando pelo conceitual crítico até o pensamento midiológico e a "criação" da Aldeia Global. Porém, a necessidade de informação "Live" 24 horas por dia, traz um mosaico de alterações constantes e surgimento de inúmeros, e infinitos, espaços comunicacionais.

Dentro desse bojo, o filósofo Pierre Lévy, estudioso ímpar da nova cultura cibernética, joga algumas indagações essenciais dentro da discussão teórico-paradigmática que visa problematizar de maneira crítica o novo paralelo entre a cibercultura e a função cognitiva dos grandes transformadores da organização espacial, os intelectuais.

Lévy nos indaga com a pergunta: "Nesta nova situação, não é urgente redefinir a função dos intelectuais?".

Para um primeiro momento, o filósofo define a atuação intelectiva contemporânea e como explorar de maneira plena este novo espaço e como fazê-los trabalhar a serviço de uma unidade social e da inteligência coletiva.

No tocante a tabulação do problemas, o artigo destaca dois principais. Um subgrupo definido enreda a grande pluralidade e multiplicidade dos novos sistemas de comunicação tecnológica, ou seja, incompatibilidade de uma organização, nova, e cabível para que se possa configurar o ciberespaço a partir das novas teorias críticas.

Nesta mesma esteira de raciocínio, o segundo subgrupo, mostra como a engenharia da internet só contribui para a simplificação, alienação e pragmatização das questões conceituais. " Lembremos que o Google e o Yahoo baseiam suas pesquisas em cadeias de caracteres e não conceitos. Por exemplo quando o usuário solicita a pesquisa "cachorro", esta palavra é tratada como a seqüência de caracteres "c,a,c,h,o,r,r,o", e não como um conceito traduzível em várias línguas...", afirma Lévy.

Assim, com a dependência cada vez maior dos meios de comunicação, como criar um sistema universal com gestão de conhecimento?

O autor se apóia em duas observações principais sobre a criação do sistema, a primeira fala da amplitude do sistema, ou seja, fazer com que ele envolva todas as línguas e teorias, sem preconceitos socialmente pré-estabelecidos.

O segundo ponto é do tipo matemático. Ao passo que os endereços matemáticos criam operações de análise operacionais e automáticas, as teorias não podem ser assim, por isso é necessário repensar essa questão.

A objetivação dos conceitos teóricos em plena sociedade da informação, mostram como o esvaziamento intelectual se dispõe como grande empecilho para o desenvolvimento da cultura nos próximos anos.

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Mattelart, em seu artigo, "A batalha das palavras", mostra a evolução do conceito de sociedade em rede e como isso se deu em paralelo com um crescimento teórico-intelectivo quase pueril.

A guerra fria foi o primeiro contextualizador dessa tipo de sistema em rede dentro da nossa organização espacial. A partir de 60 e 70 ela ocorreu de maneira mais perceptiva.

O crescimento dos meios de comunicação de massa e a política de esvaziamento sócio-ideológico. A indústria cultural que começava a ser construída pelos EUA já dava sinais de domínio midiático diante da emergência da sociedade de consumo.

A partir da década de 80 a falta de participação do Estado, debruçada na falsa idéia de livre "iniciativa", e o crescimento de Tactcher e se neoliberalismo deram ainda mais base de sustentação ao domínio midiático

Em 90 o estágio que seria o passo mais importante o surgimento da internet faz com que as fronteiras comunicacionais fiquem cada vez mais curtas. Foi ela, internet, a catalisadora de uma hegemonia dogmática e de formatação dos debates de mídia (agenda setting).

O autor cita que em 2001, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) propôs a criação de uma noção estatística da informação, calcando ainda mais o paralelo entre informação e mercado.

Uma das grandes críticas é sobre a questão do controle do que é acessado na rede, que fica por conta, mesmo que indiretamente, dos EUA. Logo o controle do fluxo informativo fica mais palpável, apesar da internet ser infinita.

Assim, dentro desse prisma, voltamos ao direito de comunicação mais primórdio, visto que hoje em dia esse instrumento não se encontra plural e democrático como deveria ser. O sentido vertical impera hoje como nunca, nesse cenário de alienação e dominação, o debate em torno do quarto poder e sua relação com o meio social se transformou em um dos principais temas do século XXI.

Os dois autores trazem uma abordagem muito parecida, porém, vistas de um ângulo diferente, mas sempre problematizando o debate prospectivamente.

A fase pós-industrial, que traz consigo a sociedade em rede, a despolitização e o esvaziamento do Estado, traça um novo desenho na configuração, com a mídia como um gestor da sociedade contemporânea.

Para Levy, a complexidade do problema está justamente na contradição entre um crescimento das tecnologias dos veículos e a diminuição de debates subjetivos diante dos temas.

Esse pragmatismo é fruto de uma sociedade, cuja linearidade do discurso se explica pela objetivação e formatação das discussões. Assim, os que "mandam", não vêem como um negócio interessante um avanço prospectivo dos indivíduos, o que não sustentaria a organização consumista-capitalista,

Mattelart, também foca o problema da relação mídia – social, porém com enfoque um pouco diferente.

A emergência da sociedade em rede trouxe o controle do fluxo de informações, é a ditadura midiática. Poucas corporações tem em mãos toda a máquina de comunicação e manipulam da forma que bem entendem tudo aquilo que é publicado.

Quando a mídia vende a idéia de acesso fácil e pluralidade, ela está, nada mais nada menos, objetivando (Levy) e formatando (Mattelart) o discurso ao invés de criar mecanismos crítico – argumentativos para uma leitura do mundo mais prospectiva.

Os dois autores mostram como a atuação da mídia hoje é um dos grandes vetores do capitalismo e do esvaziamento educacional. Traçam, também, algumas tentativas de solução para o problema, que passam pela velha, porém, indispensável, retórica da formação educacional e da mídia sem o teor mercadológico dos novos tempos.

No momento em que a informação vira mercadoria e o pragmatismo substitui a subjetividade, um cenário sombrio se monta em nossa geração. O ano de 2007 foi um passo muito grande para a democratização dos meios de comunicação, o advento da internet não trouxe só problemas, como é um campo infinito de pesquisa, há cada dia surgem blogs e sites nos quais a crítica aos oligopólios de comunicação são cada vez mais constantes.

2 comentários:

Alexandre Vasconcellos disse...

A resenha/ análise dos dois artigos é perfeita!

Além de Lévy e Mattelart, outros estudiosos da política e da comunicação sabiam da sinergia entre estes dois campos. Inclusive, Marx foi editor e proprietário de um jornal voltado à classe operária.

A democratização da comunicação é, ao msm tempo, uma oportunidade única e um instrumento de dominação. Hoje em dia, pode-se dizer que há e nã há mainstream. Hoje, todos os "streams", dos menores e alternativos aos mais abrangentes, estão inclusos na sociedade de consumo. Está tudo coberto e controlável.

Só não se controla a totalidade das mentes humanas. E é nisso que, para mim, reside a esperança na mudança...

Raphael Dias Nunes disse...

A là estripador, Vamos por partes:

Primeiro é o (Nélson?!?) Lévy:

Extremamente interessante notar que a evolução de nosso principal e cada vez mais necessário meio de comunicação global - a internet - se dá por dois pontos distintos:


Um deles é o modelo matemático e geométrico representado pela pesquisa em caracteres, que parece ser uma forma robótica e, de certa forma, "burra":
O exemplo dos sites de busca, que lêem apenas a conjunção de letras e não a palavra como um todo, foi perfeito!



Descartar o conjunto mágico e extremamente responsável da PALAVRA é quase um crime:

"A palavra é o único ser vivo que nasce, cresce, morre e ressuscita. Trate-a com respeito" - Armando Nogueira



O outro é a diversidade e a "ausência" de preconceitos culturais e linguísticos, sociais, etc.
A mesma evolução vem permitindo uma evolução para um lado mais desenvolvido etnicamente, humanísticamente e antropologisticamente mais "justo".


Esse paradigma de conceitos virtualmente atuais foi extremamente intrigante!!





Depois o Jack faz a parte 2, que é o Matterlart!


Buenas noches! ;)