sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Geopolítica?

Nos últimos anos temos visto um vazio identitário por parte da geografia humana, faculdades e universidades se limitam a formar professores e ambientalistas nos cursos. Algumas ciências como, história, ciências sociais e políticas e economia estão ocupando o lugar que poderia ser preenchido pela geopolítica. Algumas pessoas (como o próprio autor) tem um segundo grau recheado de bons debates nas aulas da disciplina - ao contrário de décadas passadas aonde víamos um determinismo ambiental e uma geografia totalmente pautada em observações e intuições - buscando analisar de forma político-social a miscigenação entre o homem e o meio, a partir dessa geografia escolar essas pessoas buscam se especializar na área mas encontram um buraco enorme entre a geopolítica e a geografia das faculdades.

A geografia viveu um movimento muito forte de renovação e rompimento de paradigmas nas décadas de cinqüenta e sessenta, a chamada “geografia tradicional” entrava em crise, era preciso buscar novos caminhos e novas linguagens para que houvesse uma liberdade maior para reflexão e criação.

As razões dessa crise foram, em primeiro lugar, a organização espacial que sustentava as idéias da geografia tradicional havia se alterado. O modo de produção capitalista mudou, o liberalismo econômico estava enterrado, e com ele as grandes iniciativas privadas, era a hora do estado intervir na organização territorial e econômica da sociedade, essa realidade propõe uma nova função para as ciências humanas na época e a geografia tradicional não parecia seguir esta linha, daí o principio de uma crise ideológica.

Num segundo momento podemos observar um processo de desenvolvimento urbano muito acelerado, cidades passam a se transformar em megalópoles e as comunidades locais dão lugar a uma rede de relações e interesses muito complexos, era o embrião da globalização. Isto defasou o objeto de pesquisa da atual geografia, ela não tinha mais condições de entender e estudar a nova forma de organização do espaço urbano.

Porém esse movimento de renovação não e unitário, devido à enorme quantidade de caminhos e pensamentos ideológicos, o mosaico dessa nova geografia e muito abrangente e pode ser dividido entre a Geografia Pragmática e a Geografia Crítica, nas duas vertentes podemos observar posturas filosóficas e metodológicas diversificadas.

A ala pragmática visa uma perspectiva voltada para o futuro, como vimos o planejamento urbano passa a ser objeto de estudo das ciências humanas, então essa geografia busca alinhar esse planejamento em função do interesse do capital burguês. Esse novo braço da geografia nada mais é do que uma “Geografia tradicional” um pouco aperfeiçoada. Uma das vias da Geografia pragmática, e o entendimento das relações por meio de números e fórmulas matemáticas, o que e amplamente deixado de lado pelos defensores da linha crítica.

A geografia que nos interessa realmente é a critica, são autores que se posicionam por uma transformação da sociedade a partir dos seus estudos. Os seus defensores começam a buscar uma geografia militante e com pitadas de política e ideologia, buscando uma realidade social mais justa.

A principal critica que esse movimento faz à geografia tradicional, é o aprisionamento dos seus estudos em simples descrições ou intuições de uma paisagem.

Outro ponto que é questionado é a estrutura de dominação de classes, os geógrafos críticos apresentam uma geografia com caráter social e classista, buscando combater o abismo social do modo de produção capitalista.

Um dos primeiros livros a apresentar a geografia de forma política, e mostrar uma crítica ferrenha aos modos de pensamentos tradicionais foi A Geografia serve, antes de tudo, para fazer a guerra. Yves Lacoste, em seu livro, mostra a geografia dividida em duas vertentes: a “Geografia dos Estados-Maiores” e a “Geografia dos Professores”.

A primeira seria uma ciência que sempre existiu, todos os grandes estrategistas de guerra (Napoleão, Alexandre ou Hitler) sempre tiveram projetos ligados a noção de espaço e organização territorial. Essa Geografia seria, na prática, para estabelecer estratégias de domínio, e ações de guerra na superfície terrestre.

A segunda seria a denominada Geografia Tradicional, para Lacoste ela exerce uma função principal, mascarar a existência da Geografia dos Estados-Maiores, ou seja, mostra a geografia como um saber inútil, mas ao mesmo tempo é a base para as pesquisas de guerra dos principais Estados.

A partir desse final da década de setenta, a geografia política sai dos círculos militares e entra em uma visão integrada de espaço, em uma perspectiva popular, socializando o saber geográfico, pois ela passa a se tornar fundamental para constituir uma nova organização espacial e dar embasamento para embates políticos e sociais.

Tendo todo esse cenário de transformações e melhoramentos, como pode a Geopolítica ter sumido?

Um primeiro ponto, sempre muito debatido nas faculdades e salas de aula é o velho ditado que diz assim: “a geografia é um oceano muito extenso e pouco profundo”. Apesar de não concordar muito, a frase não deixa de estar certa, em certos momentos a aluno se vê meio perdido diante da gama de assuntos abordados, e acaba por não se aprofundar em nada e cai na sala de aula, como última opção (sem desmerecimento à classe obviamente).

Assim, dentro de muita coisa com pouco conteúdo a ciência perde espaço para as outras se esboçar nenhuma reação. Quer ser geógrafo ambiental? Perde a vaga para o engenheiro. Quer a geografia de solos? Perde para o Geólogo. Quer ser humanista? Aí que está ferrado mesmo, fica atrás de sociólogos, economistas, cientistas sociais etc.

E, como tudo, acaba caindo no ramo mercadológico, até porque os profissionais tem que sobreviver, e aí vão dar aula em cursinhos, colégios, faculdades, deixando de lado pesquisas, análises sociais e projetos ambientais.

Um parênteses aqui antes do fechamento do artigo, não busco, em momento algum, menosprezar a classe acadêmica, até porque considero os professores grandes artistas, mas acredito que a Geografia pode oferecer muito mais do que aulas.

O Geógrafo tem na sua crítica, também o seu diferencial.O olhar mais amplo que os estudos geográficos proporcionam enxergam além das análises técnicas e pragmáticas de um economista, por exemplo.

Finalmente, espero muito um reerguimento da Geografia na sua essência, espero porque como muitos, que hoje entram nas faculdades para ter na disciplina sua profissão, eu um dia já entrei e vislumbrei todo esse mosaico que apresentei aqui.

Milton Santos faz falta!!

Em tempo :

A CPI dos Grampos nada mais é do que uma palhaçada.

Estão tentando minimizar e acabar com a Operação (brilhante) Satiagraha, que botou na cadeia os engravatados mais importantes do país.

Aliás, perguntar não ofende.

O que a discussão em usar ou não algemas vai mudar a estrutura do país?

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